A angústia da escolha

Segundo S. Kierkegaard (Dinamarca, 1813 – 1855), a angústia surge da possibilidade de escolha. Esta somente ocorre diante da liberdade de ação. E tanto a liberdade quanto a escolha não garantem um futuro que seja conhecido ou controlável, mas incerto, colocando o indivíduo frente à possibilidade do nada. A angústia nasce, assim, da possibilidade do vir a ser, daquilo que se escolhe tornar-se.

“Mas, o que quero tornar-me?”. É nesse instante, entre o desfrute da liberdade e da possibilidade da escolha que a angústia nos visita. O medo, igualmente, pode acompanhá-la, bem como o sentimento de falibilidade, isto é, a dúvida em relação à real capacidade de agir.

Paradoxalmente, é nesse mesmo tempo que o indivíduo pode tornar-se mais verdadeiramente consciente do seu potencial através da experiência da angústia. Isso porque, apesar de conhecer seu potencial de realização, paralisa-se diante da liberdade e do drama da escolha. Portanto, a angústia pode ser tanto um caminho de autorrealização e individuação, quanto uma vereda sufocante de inanição e estagnação.

Para J. P. Sartre (França, 1905 – 1980), a angústia está proporcionalmente ligada ao conceito de liberdade, ou seja, são as escolhas possíveis que tornam o homem aquilo que ele é ou pode vir a ser, sendo o responsável direto pelas suas ações e consequentes decisões. Porém, seu ato de decidir – e escolher – tem o atributo de influenciar a vida de todos os quais convive, colocando um pesar muito maior sobre suas ações.

Assim, de forma semelhante à Kierkegaard, Sartre disserta que a liberdade angustia o ser pela eventualidade da escolha, mas além disso, não somente o afeta, mas também o mundo que o cerca. A superação dessa dúvida, ou ao menos a sua atenuação, pode vir pelo despertar do ser através do autoconhecimento, o qual o conduz para a responsabilidade pessoal, elevando-se de um estado não-autoconsciente para um estado consciente, propondo-lhe uma reflexão autoconsciente.