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Aspectos do Id no modelo estrutural freudiano

Introdução


Neste breve artigo, abordaremos os aspectos principais do Id inserido no modelo estrutural ou segundo modelo de aparelho psíquico: id, ego e superego. Além de sua conceituação básica, veremos suas características e influências na nossa personalidade, a qual evidencia sua estrutura dinâmica frente a esses elementos.


Freud, mormente tendo desenvolvido o primeiro modelo estrutural da psique, ou seja, trazendo a ideia de “lugares” de sua formação (inconsciente, pré-consciente e consciente), buscou ampliar a compreensão sobre as relações existentes entre essas instâncias psíquicas. Dessa forma, o entendimento freudiano passa a ser sobre como tais estruturas se comportam e como se relacionam entre si, cuja dinâmica influencia diretamente sobre nosso modo de agir e se relacionar, isto é, sobre nossas personas (Teoria da Personalidade).


Ressalte-se, outrossim, que tais domínios psíquicos Id, Ego e Superego não são estanques e isolados sobre si mesmos, nem tampouco seu entendimento exclui a primeira tópica freudiana. Pelo contrário, há interpenetrações e relações entre ambas as tópicas, isto é, o Id é inconsciente, o Superego é em sua maior parte inconsciente, porém, apresenta uma pequena parte consciente, e o Ego é consciente, mas também apresenta sua porção inconsciente, ficando na posição de mediador entre Id e Superego. Vale observar que, frente a essas estruturações psíquicas, o inconsciente abrange também o Ego e o Superego, não se restringindo somente ao Id.



O segundo modelo estrutural e a dinâmica da personalidade


A concepção da segunda tópica ou modelo estrutural proposto por Freud teve como objetivo esclarecer relações existentes as instâncias nominadas no modelo topográfico (inconsciente, pré-consciente e consciente), haja vista que uma vez estabelecidos os “lugares” ainda não se vislumbrava a atividade ou dinâmica que estes elementos estruturais possuíam ao longo do desenvolvimento da personalidade do indivíduo.


Com efeito, Freud observou que o Id guarda não somente uma reserva de energia vital, mas também os impulsos instintivos do sujeito, subsídios que o influenciam na sua interação com o mundo exterior, constituindo sua principal forma de manifestação. Tal força psíquica é direcionada para a satisfação dos desejos (em tese reprimidos) necessários ao seu desenvolvimento. Contudo, para que esses desejos sejam de fato satisfeitos, a energia psíquica deve ser direcionada para a criação de uma imagem deles (objeto do desejo), cuja correspondência são as chamadas pulsões. Esse objeto, por sua vez, não guarda somente a satisfação em si quando conseguido, mas também algum conteúdo emocional existente por detrás de sua realização. Por exemplo, no ensinamento de Fiori (in RAPPAPORT, C.R. e outros. Modelo Psicanalítico. Psicologia do Desenvolvimento. São Paulo: EPU, 1982, vol. 1, cap. 2, p. 21):


"Quando a criança fantasia a imagem do seio para sua saciação, não é apenas a fome que é trabalhada, mas também a ligação afetiva com o seio, a construção da figura da mãe, as relações de bom e mau estabelecidas, a adequação do processo mãe-criança, a confiança no mundo exterior etc.”



O Id e suas peculiaridades principais


Sendo assim, verificamos que o Id tem apresenta algumas características, sendo a primeiras delas a supracitada acima, ou seja, a capacidade de criar imagens do objeto de seu desejo no plano da imaginação, resultado de, em linhas gerais, alguma falta, carência ou necessidade interna, não atendida. A essa capacidade de criação de imagens, Freud denominou de processo primário.


Nesse contexto, Freud igualmente verificou que os sonhos guardam esse tipo de energia psíquica manifestada pelo Id, cujas imagens são as liberações desses desejos reprimidos no inconsciente. Outrossim, Freud constatou que o Id cria a imagem do objeto do desejo, mas que esse objeto em si tende a ser satisfeito a partir de sua realização no plano concreto através do Ego.


Outro fator peculiar do Id é o querer imediato de sua satisfação, independe da sua possibilidade de realização no plano fático, o que é chamado de princípio do prazer. Consequentemente, a busca pelo prazer dessa estrutura da psique não obedece ao aspecto lógico-racional, já que não se preocupa com a realidade, de onde origina sua outra característica, a atemporalidade. Isso significa que, para o Id, o tempo só existe no presente, palco de todas as manifestações psíquicas, independentemente da época em que determinados fatos possam ter ocorrido ou não (fruto de fantasias), ou mesmo sobre aqueles que possam acontecer (eventos futuros).


Desse ponto de vista, é imperioso destacar que essa característica do Id de ser regido pelo princípio do prazer ou satisfação imediata, pode trazer sérias consequências para o indivíduo. Isso porque, quando identificado com essa instância psíquica, o sujeito executará suas ações movido por aspectos emocionais de forma infundada, ou seja, querendo satisfazer seus desejos com urgência e sem considerar as eventuais consequências de seus atos. Sendo assim, ao agir norteado pelos desejos do Id, o indivíduo pode se tornar extremamente egoísta e estabelecer relações não saudáveis em seu convívio afetivo, familiar, social e profissional.



Considerações finais


Pelo teor visto anteriormente, podemos tecer algumas considerações interessantes. O segundo modelo estrutural proposto por Freud, considera o Id como a instância psíquica onde se concentram os desejos e impulsos inconscientes. Estes, a princípio, são necessários para a manutenção da vida, precipuamente, nos primeiros anos da infância, onde há a necessidade de satisfação imediata desses desejos (fome, sono, amamentação etc.). Por isso, podemos asseverar que tanto os conteúdos existentes no Id são inatos e originários, quanto adquiridos ao longo dos anos através do processo de formação da personalidade, através de processos traumáticos e de recalques.


No entanto, enquanto manifestados na infância como forma de atender a manutenção da vida podem ser saudáveis, mas se manifestados principalmente na vida adulta, oriundos de conteúdos inconscientes recalcados e traumáticos poderão trazer sérios prejuízos ao desenvolvimento de uma psique saudável.

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